O maior Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) começou nesta quarta-feira (30) em Brasília (DF) e segue até domingo (3). Com quase 5 mil participantes, dentre assistentes sociais e estudantes, a 16ª edição do evento trouxe, no primeiro dia, a conferência 40 anos da “virada” do Serviço Social no Brasil: historia, atualidade e seus desafios!, com as professoras Marilda Iamamoto e Ivanete Boschetti. Quem não participou nem assistiu online pode ver a filmagem do primeiro dia nos canais do CFESS no YouTube (acesse aqui) e no Facebook (veja aqui).
A segunda conferência do 16º CBAS, que ocorreu na manhã desta quinta-feira (31/10), debateu o tema “Em defesa da diversidade humana: lutas e resistências contra a exploração e demais formas de dominação e opressão no capitalismo contemporâneo”.
Mauro Iasi (UFRJ), Silvana Mara de Morais (UFRN) e Cláudia Durans (UFMA) fizeram uma provocante discussão sobre a unidade dos temas de classe, raça, gênero e orientação sexual, apontando para a direção da emancipação humana, em contraposição à dominação e exploração do sistema capitalista.
O professor da UFRJ destacou as recentes mobilizações na América Latina contra governos neoliberais (à exemplo do Chile, Argentina e Equador) como fontes de inspiração para uma reação ao atual governo brasileiro. Afirmou que a emancipação humana pressupõe a superação da ordem capitalista, e isso pressupõe um sujeito, no caso, a classe trabalhadora. A tensão, segundo ele, está na fragmentação dessa classe, que, muitas vezes, está longe de se perceber enquanto classe, resultado da condição (e dominação capitalista).
“Precisamos resolver equação entre luta concreta e meta transformadora”, enfatizou Iasi, alertando que o processo de luta revolucionária não pode desprezar ou se perder nas necessidades concretas de trabalhadores e trabalhadoras. O professor alertou também para as formas de dominação utilizadas pela burguesia, que se apropria do Estado e do aparato repressor para se constituir enquanto classe dominante, e enfatizou a dominação ideológica, que possibilita que em uma país como o Brasil “pessoas irem para a ruas para defender e votam no opressor”. Por fim, elogiou a categoria de assistentes sociais, ou, em suas próprias palavras, uma “categoria de vanguarda”, que sempre teve uma postura crítica e aguerrida, seja em momentos críticos como a Ditadura Militar ou como o que o Brasil viveu sob os governos marcados pela de conciliação de classes.
Em seguida foi a vez da professora da UFRN Silvana Mara abordar a concepção da diversidade humana com recorte na questão LGBT. Ela pontuou que essa concepção levanta polêmicas no campo das esquerdas, mas que os fundamentos do Projeto Ético-político do Serviço Social contribuem para apreensão e análise da diversidade humana. “Não partimos de pactos, leis, tratados, concepções essas liberais. Nossa concepção de diversidade humana parte dos indivíduos de carne osso do nosso cotidiano”, explicou.
Silvana foi precisa em sua crítica sobre a direita e o conservadorismo, que “buscam homogeneizar os seres humanos” e “exterminar” a diversidade humana. Uma direita que avança contra lutas históricas em defesa do trabalho, da seguridade social, da agenda feminista e de outras bandeiras progressistas. Ao mesmo tempo, alertou para as contradições e limites no campo da esquerda, onde a diversidade humana pode ser “aprisionada num labirinto economicista, político e culturalista”.
Para encerrar sua fala, a professora da UFRN fez um resgate das ações político-normativas do Conjunto CFESS-CRESS no âmbito da defesa da diversidade humana, com foco na população LGBT e lembrou da ex-conselheira do CFESS Marylúcia Mesquita, que contribuiu intensamente para a visibilidade dessa pauta no conjunto CFESS-CRESS.
Para fechar a mesa, a professora da UFMA Cláudia Durans falou da diversidade humana a partir da perspectiva étnico-racial. Ela começou relembrando e protestando contra os assassinatos da menina Ághata, de 8 anos, pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, e da vereadora Marielle Franco, reforçando a cor negra de suas peles como uma das razões de suas mortes.
“Nós que temos a pele preta somos a resistência e estamos aqui, fazendo história”, ressaltou, destacando a importância da representatividade nas mesas e debates do 16º CBAS. Cláudia fez um resgate da escravidão no Brasil, uma “ideologia para justificar a barbárie”. “Se a gente falar de alienação, podemos falar que o povo sofreu dupla alienação: “do nosso trabalho e dos nossos corpos. Fomos mercadoria, ‘coisificados’, nos tornaram coisa, tentaram tirar nossa humanidade”. Ela ainda falou da questão da mulher negra: “nesse caso, estamos falando de uma tripla alienação”, ressaltando a questão do estupro das mulheres negras. “Passados 130 anos da abolição, que república construímos? Uma igualdade meramente formal”, criticou.