Um convite para atuação do Serviço Social Antirracista 

Assistente Social, você já se perguntou o que você tem a ver com o racismo? Já refletiu o que tem feito para ter atitudes antirracistas em consonância com o Código de Ética da/o Assistente Social? Ao planejar as ações profissionais você considera a categoria étnico-racial, aliada ao gênero, classe e geração? Como está o empenho na eliminação a todas as formas de preconceito?

Para refletirmos e construirmos intervenções contra o racismo no último triênio o Conjunto CFESS/CRESS teve como campanha “Assistentes Sociais no Combate ao Racismo”.

A realidade concreta demonstra o quanto o racismo é estrutural e estruturante na nossa sociedade. Nós, enquanto categoria profissional, também estamos sujeitos a sermos racistas ou ainda sermos omissos/as/coniventes com essa forma de preconceito.

Nas últimas semanas temos assistido no mundo todo o levante contra a violência policial submetida a população negra. A população negra já não consegue respirar há muito tempo. Precisamos dá um basta nisso? A solução não é fácil, não é simples, mas é possível e necessária. Você Assistente Social é parte do problema ou da solução? Pense nisso!!!
São corpos negros e negras que lideram negativamente os rankings de violência doméstica, feminicídio, violência obstetrícia, lgbtfobia, homicídios, dentre tantos outros.

O navio negreiro moderno é representado pelas cadeias. São corpos negros que estão em cadeias provisórias aguardando o julgamento da sentença. São corpos negros/negras que superlotam as cadeias e cumprem as medidas socioeducativas. Assistente Social você já parou pra pensar a cor e classe social dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas nas unidades socioassistenciais, especialmente?

São vidas negras que lideram os dados do acesso precário e/ou não acesso as políticas públicas de saúde, saúde mental, moradia, emprego e renda, dentre outras. Os Sistemas Únicos de Saúde e de Assistência Social são acessados majoritariamente pela população negra, principalmente mulheres. Num país profundamente desigual e ao mesmo tempo rico como o Brasil tal dado diz muito.

Em tempos de Pandemia o cotidiano da população negra revela as nuances de crueldade a que é submetida. A primeira pessoa a morrer vítima do novo coronavírus no Rio de Janeiro foi uma trabalhadora doméstica e pegou o vírus da patroa no Leblon, em março. Pela sua condição de classe, gênero, raça/etnia e geração não teve direito ao isolamento/distanciamento social tão fundamental na atual crise sanitária.

No Pará, em março, o trabalho doméstico ficou elencado enquanto serviço essencial. Após críticas e pressão social passou a ser considerado essencial “apenas quando imprescindível”. Seria cômico se não fosse trágico. Beatriz Launé acabara de fazer 18 anos. Seria um momento de felicidade não fosse a tragédia anunciada. A jovem ficou órfã dos dois pais. A mãe trabalhadora doméstica atuava em quatro casas para manter o sustento da família.

Agora em junho, na capital Recife, a vida de Miguel de apenas 5 anos foi ceifada. A mãe Mirtes Renata, trabalhadora doméstica, não tinha outra opção a não ser levar o filho para o trabalho já que o mesmo não estava tendo aulas por conta da Pandemia. Realidade diferente de muitas crianças e adolescentes que continuaram com aulas online/remota, tendo todo suporte informacional e pedagógico, e próxima a de outras tantas que não tem acesso a internet de qualidade ou a aparelhos de celular, notebook/computador adequados.

Mais um exemplo de que não estamos no mesmo barco, nunca estivemos, nunca estaremos, e que seguimos, na verdade, em barcos diversos.

Assistentes Sociais tem um papel fundamental no enfrentamento ao racismo. Somos profissionais que temos acesso privilegiado a população. O aspecto socioeducativo do nosso trabalho é um potencial importantíssimo. Ocupamos cargos de execução, planejamento e avaliação de políticas públicas. Somos pesquisadores/as nas universidades. Desenvolvemos projetos de extensão.
A categoria profissional de Assistentes Sociais é majoritariamente negra e feminina. Por isso mesmo vivenciamos na pele todas as nuances em que o racismo se manifesta.

Este é um convite para o enfrentamento coletivo ao racismo. Todas as vidas importam, sabemos disso, entretanto são as vidas negras que mais correm riscos, inclusive de morrer. Por isso afirmamos que Vidas Negras Importam. Miguel Presente.

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