Aumenta letra -  | Diminui letra -  | Letra normal -  

Relato de uma vida negra, por Dilma Franclin

Nos últimos dias eu tenho ficado tão impactada a ponto de estagnar e não mais ter condições de elaborar todos os ataques sequenciais. Tá muito complicado! Continuam nos matando e só tem agravado a forma cruel e perversa com que nos afetam.

Em tempos de distanciamento social as formas de enfrentamento coletivo e de troca de afeto são modificadas Estamos sem o poder dos abraços, de confraternizar juntxs e discutirmos estratégias de enfrentamento, sem executar nossos hábitos físicos, espirituais e coletivos mais comuns de aquilombamentos… Temos que nos reinventar no momento em que temos uma morte a cada minuto pelo coronavírus e que de novo nesse dado subnotificado quem morre muito mais é o povo negro.

Moro no subúrbio, toda hora é mais uma “notícia” de óbito na região ou no mínimo de chicungunha, dengue, alguém que foi testado positivo coronavírus, assassinato, violência contra a mulher, negligência durante o atendimento e/ou falta de atendimento nos serviços de saúde…

O serviço de insegurança pública continua a todo vapor.

A polícia continua nos matando, o estado segue sua cartilha e os patrões também escancarado a defesa de seus próprios privilégios.

E no chão da fábrica, o nosso local de trabalho tem exigido tanto mais da gente que parece que estamos sendo sugado a vácuo seguindo o caminho para a câmara de gás. Precisamos brigar para termos EPI, toda hora muda o fluxo questões minímas como retirada de documentação, acesso aos direitos sociais…

A indignação tem crescido muito, estamos no momento que não temos condições de suspender o cotidiano para nos reenergizarmos e as tensões crescem absurdamente.

Sabemos que o cenário infelizmente não seria diferente aqui no Brasil durante uma pandemia.
Mas sempre é bom lembrar que o amor é revolucionário e alimenta a esperança 😘